sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

XVI



Detesto a nostalgia dos dias de chuva,
dezembros que se apagam
em oceanos de nuvens pálidas
e, meu destino dividido
sobre a mesa da copa,
um imenso puzzle de milhares de peças,
um romance com as páginas soltas
e as letras a escorrerem.
Não fui à guerra pra viver chacinas,
não sofri violências maiores,
privações e penúrias,
apenas ouço de entre as grades
relatos e mais relatos
e calo na garganta o grito
sufocado e tenso contra tudo.
Contra o sistema democrático e livre
que nos obriga a viver com medo
a conviver com a sobra,
a sobreviver do resto, do esgoto da civilização.
Não apreendi da razão grega,
da metafísica inútil, da idéia plena,
não fiz escola com a Ilíada,
nem bebi em Camões
as frases célebres da língua por se fazer.
Uso uma língua que o mundo
nem quer conhecer;
uso-a para falar, escrever, gritar
e pouco adianta. Pouco...
Não tomarei café com o Minotauro
-não nos entendemos- à exceção
de sermos, ambos, criaturas estranhas,
sozinhos, incompreensíveis,
embora ele, ainda apareça
em películas produzidas para adolescentes.
Minha terra, se tem palmeiras, não as vejo,
nem vejo o mar. O Tejo ficou distante,
não há saudade, só a sensação
de uma morte lenta a rondar,
e não a morte gloriosa de herói
com procissões de centenas,
apenas o frio, o escuro
o vazio, o silêncio...


Parafraseando de memória o Lucas Ed, você que leu, percebeu que o poema é meu, não pretendia copiar, não é?

Esse poema faz parte de um livro que está, já, escrito, digitado, revisado e aguardando. O quê? Não sei ainda. 

2 comentários:

  1. Irmão,

    Como é que não sabia desse blog?
    Maravilha de Poema!
    Grande abraço!

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  2. Zak, que presente!
    Saudade de você, de sua poesia...
    Virei sua seguidora, viu?
    Beijão!

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