quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

IV (Eu me lembro)

Não me escapa à memória a expressão da cabeça da Górgona de Caravaggio, pintada num medalhão redondo de madeira. É sempre difícil lidar com os 'milagres' (conforme o diria Alberti) que a pintura nos pode proporcionar. Dentre as obras da mostra que visitaram minha cidade, tantas tão maiores e talvez tão mais importantes, ficou o olhar estarrecido daquela figura, espantada com seu próprio reflexo no escudo de Perseu, mas ainda impregnado do seu poder paralisante, de sua fúria e talvez do medo que tanto causara. Fechar os olhos e buscar na lembrança sua imagem é, ainda, como estar petrificado frente a ela, impotente, incurioso, lasso.

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